Por Gabriel Paciornik
Qasem Suleimani era, para
Israel, o sujeito mais perigoso do Oriente Médio, e portanto, do
mundo. Houve várias tentativas de assassinato dele ao longo dos
anos. Quase todas foram bloqueadas pelos EUA por motivo de
segurança: muito arriscado.
Suleimani era um general. Mas não do exército iraniano, e sim da Guarda Revolucionária - uma organização paralela às forças armadas, poderosíssima dentro do Irã e que só responde ao Aiatolah, e não ao presidente ou outras instituições.
Suleimani era o líder da Força Quds. O responsável por "Exportar a Revolução Iraniana". Ou seja: hegemonia. Suleimani agia no mundo todo. Iraque, Síria, Líbano, Arábia Saudita, Yemen e, não esquecer, Argentina, em 1994. A força Quds foi a responsável por transformar o Hizbollah numa máquina de guerra e de fornecer os mais de 100.000 foguetes que tem a disposição.
Ultimamente, Suleimani vinha criando redes revolucionárias no Iraque e tentando consolidar a presença iraniana na Síria. Para Israel, bases militares da Força Quds na Síria era um big no-no. Vinha frustrando esse processo há mais de cinco anos. Há dois anos, faz isso de forma aberta, bombardeando bases e forças-comando, enquanto vários ataques saíram de lá diretamente contra o território israelense.
Todo o sistema militar israelense está antenado para um escalonamento da situação no norte, com o Hizbollah e a Força Quds realizando ataques simultâneos de foguetes da Síria e do Líbano. Todos diziam: é só questão de tempo.
Por que?
Porque a principal refinaria da Aramco, na Arábia Saudita foi atacada por um contingente de drones em Setembro. Não houve instituição militar no mundo que não trabalhou com a hipótese de que o ataque tenha sido da Força Quds. Acontece que não houve resposta. Nem da Arábia Saudita, nem dos EUA.
Em Junho houve um caso ainda mais cabeludo, quando um drone de inteligência americano foi derrubado pelo Irã. Irã afirmou que o drone estava sobre seu território, EUA negam. E não importa muito - não houve resposta.
Depois de todas essas ações e outras de importância geopolítica máxima (como ameaças de fechar o estreito de Hormuz e sequestro de petroleiros) o Irã vinha se sentindo livre para agir no oriente médio todo. Israel teve que ser enérgico em seus ataques nos últimos 2 meses para deixar claro que essa mensagem ambígua vinda dos EUA não era a mesma da que vinha daqui.
Pois semana passada as milícias iranianas no Iraque (sob o comando direto do Suleimani) atacaram a embaixada americana. A situação estava começando a ficar muito perigosa e a instabilidade se instituía.
Um ataque dessa magnitude -- matar a pessoa mais influente de uma região inteira -- não é feito numa terça para execução na quarta. É coisa de meses e milhões em treino, inteligência, equipamento. Ainda mais Suleimani, que era extremamente inteligente e cauteloso, e viveu a vida inteira com um alvo no meio da testa. Foi deliberado, programado, combinado e só então executado. Isso não é coisa de gente impulsiva que resolve tudo no grito, tuitando para seu povo. Trump teve que aprovar o ataque, mas dificilmente a decisão original veio da Casa Branca.
Por que?
Porque o Suleimani era o alvo ideal. Um indiscutível monstro, fanático e insubstituível por sua violência. Estava gerando uma instabilidade na região e provocando até mesmo aliados como a Rússia. ISIS já está mais ou menos controlado e o contraponto de força vindo do Irã já se tornou um estorvo há mais de dois anos. Porque ele pode ter sido respeitado dentro do Irã, mas não era amado. Era temido pelo exército e até dentro das Guardas Revolucionárias. Ao invés de destruir uma base, uma usina nuclear, um porto, uma refinaria, que poderiam ser considerados civis, os EUA atacaram um alvo indiscutivelmente militar, perigoso para todos e que já havia trazido tanta instabilidade.
Suleiman era insubstituível, mas o movimento militar do Irã e sua ideologia de "exportar a revolução" seguirá. Irã seguirá tentando construir bases na Síria, continuará tentando transformar o Iraque numa teocracia xiita aliada, continuará tentando fortalecer o Hizbollah e atacar Israel. Mas sem o fanatismo obsessivo de Qasem Suleiman, todos esses fronts se tornam mais estáveis.
Haverá retaliação do Irã, que já tinha se preparado para um ataque aos EUA e a Israel de qualquer forma, e esperava uma boa desculpa. Vai virar a 3a guerra mundial como o Twitter quer fazer acreditar? Acho difícil. Mas vai depender da habilidade dos envolvidos. Eu preferia não ter que confiar na habilidade de ninguém.
____________________
Quem é Gabriel Paciornik
Curitibano, em Israel há mais de 18 anos, Gabriel escreve sobre política e cotidiano do país e do Oriente Médio desde então. Estudou Engenharia Eletrônica na universidade Ben Gurion em Beer-Sheva e Desenho Industrial em Shenkar. Já teve Startup, já faliu, já se deu bem e já cansou. Morou em diversas regiões do país sob diferentes circunstâncias em diferentes tempos. Mora hoje em Hertzeliah. Escreve para Conexão Israel.
Suleimani era um general. Mas não do exército iraniano, e sim da Guarda Revolucionária - uma organização paralela às forças armadas, poderosíssima dentro do Irã e que só responde ao Aiatolah, e não ao presidente ou outras instituições.
Suleimani era o líder da Força Quds. O responsável por "Exportar a Revolução Iraniana". Ou seja: hegemonia. Suleimani agia no mundo todo. Iraque, Síria, Líbano, Arábia Saudita, Yemen e, não esquecer, Argentina, em 1994. A força Quds foi a responsável por transformar o Hizbollah numa máquina de guerra e de fornecer os mais de 100.000 foguetes que tem a disposição.
Ultimamente, Suleimani vinha criando redes revolucionárias no Iraque e tentando consolidar a presença iraniana na Síria. Para Israel, bases militares da Força Quds na Síria era um big no-no. Vinha frustrando esse processo há mais de cinco anos. Há dois anos, faz isso de forma aberta, bombardeando bases e forças-comando, enquanto vários ataques saíram de lá diretamente contra o território israelense.
Todo o sistema militar israelense está antenado para um escalonamento da situação no norte, com o Hizbollah e a Força Quds realizando ataques simultâneos de foguetes da Síria e do Líbano. Todos diziam: é só questão de tempo.
Por que?
Porque a principal refinaria da Aramco, na Arábia Saudita foi atacada por um contingente de drones em Setembro. Não houve instituição militar no mundo que não trabalhou com a hipótese de que o ataque tenha sido da Força Quds. Acontece que não houve resposta. Nem da Arábia Saudita, nem dos EUA.
Em Junho houve um caso ainda mais cabeludo, quando um drone de inteligência americano foi derrubado pelo Irã. Irã afirmou que o drone estava sobre seu território, EUA negam. E não importa muito - não houve resposta.
Depois de todas essas ações e outras de importância geopolítica máxima (como ameaças de fechar o estreito de Hormuz e sequestro de petroleiros) o Irã vinha se sentindo livre para agir no oriente médio todo. Israel teve que ser enérgico em seus ataques nos últimos 2 meses para deixar claro que essa mensagem ambígua vinda dos EUA não era a mesma da que vinha daqui.
Pois semana passada as milícias iranianas no Iraque (sob o comando direto do Suleimani) atacaram a embaixada americana. A situação estava começando a ficar muito perigosa e a instabilidade se instituía.
Um ataque dessa magnitude -- matar a pessoa mais influente de uma região inteira -- não é feito numa terça para execução na quarta. É coisa de meses e milhões em treino, inteligência, equipamento. Ainda mais Suleimani, que era extremamente inteligente e cauteloso, e viveu a vida inteira com um alvo no meio da testa. Foi deliberado, programado, combinado e só então executado. Isso não é coisa de gente impulsiva que resolve tudo no grito, tuitando para seu povo. Trump teve que aprovar o ataque, mas dificilmente a decisão original veio da Casa Branca.
Por que?
Porque o Suleimani era o alvo ideal. Um indiscutível monstro, fanático e insubstituível por sua violência. Estava gerando uma instabilidade na região e provocando até mesmo aliados como a Rússia. ISIS já está mais ou menos controlado e o contraponto de força vindo do Irã já se tornou um estorvo há mais de dois anos. Porque ele pode ter sido respeitado dentro do Irã, mas não era amado. Era temido pelo exército e até dentro das Guardas Revolucionárias. Ao invés de destruir uma base, uma usina nuclear, um porto, uma refinaria, que poderiam ser considerados civis, os EUA atacaram um alvo indiscutivelmente militar, perigoso para todos e que já havia trazido tanta instabilidade.
Suleiman era insubstituível, mas o movimento militar do Irã e sua ideologia de "exportar a revolução" seguirá. Irã seguirá tentando construir bases na Síria, continuará tentando transformar o Iraque numa teocracia xiita aliada, continuará tentando fortalecer o Hizbollah e atacar Israel. Mas sem o fanatismo obsessivo de Qasem Suleiman, todos esses fronts se tornam mais estáveis.
Haverá retaliação do Irã, que já tinha se preparado para um ataque aos EUA e a Israel de qualquer forma, e esperava uma boa desculpa. Vai virar a 3a guerra mundial como o Twitter quer fazer acreditar? Acho difícil. Mas vai depender da habilidade dos envolvidos. Eu preferia não ter que confiar na habilidade de ninguém.
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Quem é Gabriel Paciornik
Curitibano, em Israel há mais de 18 anos, Gabriel escreve sobre política e cotidiano do país e do Oriente Médio desde então. Estudou Engenharia Eletrônica na universidade Ben Gurion em Beer-Sheva e Desenho Industrial em Shenkar. Já teve Startup, já faliu, já se deu bem e já cansou. Morou em diversas regiões do país sob diferentes circunstâncias em diferentes tempos. Mora hoje em Hertzeliah. Escreve para Conexão Israel.
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