NOSSA IRMÃ, ANTONIETA. (parte ll)

A cidade de Antônio Carlos, atualmente, de carro, bom asfalto, fica a meia hora ou menos de Barbacena mas em 1955 devia haver 1 ou 2 ônibus, estradas esburacadas, no sol: poeirão na chuva: barro, atoleiros, desvios, atrasos. Passava por lá o trem apelidado de Baiano porque chegava até Salvador. Para entenderem esses difíceis tempos, vividos por Antonieta, é importante visitarem o link, abaixo, muito ilustrativo narrando toda a História da região e das Ferrovias.

http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_mg_linhacentro/antcarlos.htm

Antonieta, acabava passando o dia em Antônio Carlos por conta da dificuldade do transporte e quando não tinha ônibus ela vinha de trem que estava sempre atrasado chegando tantas vezes, na Estação de Barbacena até às 22 horas. Da Estação até nossa casa, não havia ônibus, tinha que caminhar a pé por ruas mal iluminadas, perigosas para uma moça de apenas 35 kilos. Sem contar que naquele trem eram quase só, homens, suados, fedidos, broncos, tudo muito primitivo e nossa pobre irmã tão indefesa. 

Nossa mãe se desesperava e pedia que pai e irmãos fossem ao seu encontro. Na maioria das vezes, não havia se alimentado porque não havia vendinhas nessas Estações e muito menos nos trens.

Ela ficou nessa situação por muitos anos, talvez uma década até que conseguiu se transferir para Barbacena..

Na mesma sociedade onde existem os bondosos os obedientes, os conscienciosos convivem também os espertalhões, os oportunistas...Nossa mãe sempre antenada percebia que para Antonieta, ficavam as turmas mais problemáticas com alunos mais rebeldes, repetentes que exigiam muito dela mas ela, como Daniel na cova dos leões, os transformavam com calma e carinho.

E como “prêmio” por toda essa bondade, enviaram-na para fazer um Curso NO ISER-FAZENDA DO ROSÁRIO/ IBIRITÉ/GRANDE BH, COM A FAMOSA HELENA ANTIPOFF.

Saiba mais no link, abaixo.

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_Antipoff

 

E aí, novos dramas para uma jovem sensível, já vivenciando os sofrimentos em casa, com um pai bipolar ( na época nem se falava em tratamento), quase uma dezena de irmãos e o pai vivia nos altos e baixos, e mais nos baixos, se endividava penhorando o salário com agiotas e só não passávamos fome porque ele , ao se casar, adquiriu grande área onde plantou todo tipo de frutas e mamãe plantou chuchu, bananeiras. Então macarrão, angu, chuchu, abacate, principalmente, matavam a fome da grande família)

 Quando vinha da Fazenda do Rosário, nos visitar, Antonieta contava casos que chorávamos todos, ao ouvir as tristes histórias daqueles que ali buscavam o tratamento. Reconhecimento à grande educadora HELENA ANTIPOFF QUE FOI A PRECURSORA DA EDUCAÇÃO AOS PORTADORES DA SÍNDROME DE DAWE A TODO SEU EMPENHO.

 Antonieta, ainda passou uns tempos, lecionando na ABAE/ BARBACENA mas diante do quadro de sofrimento que ela apresentava, retornou à escola regular e me lembro da mamãe a advertindo: “esconda esse diploma, nunca mais fale que o tem.”

(Continua...próximo assunto: morte de nosso irmão, aos 11 anos, criado e dormia com Antonieta/ papai entra em profunda depressão. Tudo no link, abaixo

http://adocaobh.blogspot.com/2010/02/uma-flor-chamada-melifera.html

NOSSA IRMÃ, ANTONIETA .(parte 2)

“Uma simples mulher existe que pela imensidão do seu amor tem um pouco de Deus, e pela constância de sua dedicação tem um pouco de anjo; que sendo moça, pensa como uma anciã, sendo velha, age com todas as forças da juventude. quando ignorante melhor que qualquer sábio desvenda os segredos da natureza, e quando sábia assume a simplicidade das crianças.

Pobre, sabe enriquecer-se com a felicidade dos que ama e, rica, empobrecer-se para que seu coração não sangre ferido pelos ingratos.

Forte, entretanto, estremece ao choro de uma criancinha, e fraca, não se altera com a bravura dos leões.
Viva, não sabemos lhe dar o valor porque à sua sombra todas as dores se apagam..." (Fernando Reis)

AS PALAVRAS DO POETA, DEFINEM NOSSA IRMÃ, ANTONIETA, ATUALMENTE COM 84 ANOS, GRAÇAS A DEUS!

A mais velha de 12 irmãos, sempre atenciosa, carinhosa, caprichosa. Foi nossa segunda mãe pois a primeira vivia a parir, lavar, passar, cozinhar...Antonieta nos dava atenção.

A vida de nossa mãe foi sofrida, após o casamento. Até aos 21, teve certa tranquilidade, na casa dos pais. Já antonieta  nasceu e cresceu, vivenciando a dura e difícil vida de nossos pais.

Embora, a mais sacrificada manteve a bondade e o despreendimento. Como professora, foi amada por seus alunos e só ficamos sabendo de seus belos gestos, mais tarde.

Além de gastar todo o seu pequeno salário, de professora, ajudando nossos pais, ela ainda comprava materiais para os alunos  desfavorecidos.

Coincidentemente, como professora, o destino me colocou na Escola onde ela lecionara, grande parte de sua vida e foi lá que ouvi as belas e surpreendentes atitudes dela.

Uma professora me contou que passou por tempos difíceis, seu salário estava retido por questões burocráticas, estava desesperada, com filhos, marido desempregado e outros familiares dependentes dela. Antonieta passou para a amiga o próprio salário mesmo estando em situação difícil também, certamente, ela percebeu que a situação da amiga, era mais premente.

Todo o seu dinheiro era para ajudar pais e irmãos. Nos Natais nos comprava presentes e não esqueço de um anelzinho com uma pedra vermelha.

Comprou telefone, o segundo aparelho existente no bairro e arredores que serviu de socorro a muitas emergências da comunidade. Comprou máquina de lavar para facilitar a árdua tarefa, cotidiana de nossa mãe.

Nunca comprou joias, enxoval como outras jovens da idade faziam. Não acumulou tesouros que a ferrugem come mas deixa um legado de bondade e amizade por onde passa.

Nunca abriu a boca para maldizer, criticar ou xingar. Está sempre a desculpar, perdoar e abençoar com voz doce, calma e compreensiva.

Memória prodigiosa para datas: não esquece aniversários e sempre traz singelas lembrancinhas. Caprichosíssima, até hoje, não consigo entender como dava conta de tudo e ainda deixar tudo organizado. Além de todos os móveis de sua casa após casada estarem impecáveis, seu fogão ORSINI de 60 anos, continua como novo. Admirável!!

Nossos pais nunca podiam nos acompanhar em nossas pequenas vitórias. Era ela que sempre estava presente.

Atualmente, aos 83 anos, está sempre nos batizados, casamentos, falecimentos de parentes, amigos, vizinhos, consolando a todos…

Ela é uma bênção em nossas vidas e de quem tem o prazer de conviver com ela. É como as violetas, miudinhas, escondidinhas debaixo das flores mas de uma singela  beleza.

(Continua…Contarei sobre quando começou a lecionar, aos 17 anos na cidade de Antonio Carlos, próxima a Barbacena. Tudo muito difícil e perigoso para uma moça tão nova e frágil, fisicamente mas sempre pensando na ajuda aos pais e irmãos e com muita fé, se agigantava e perseverava...)

Observacão: pessoal, deixe seu comentário sobre Antonieta. Há muito quero homenageá-la e reverenciar a sua nobreza. Há muitos fatos, de emocionar que relatarei, aos poucos. Não enviei para ela pq na sua humildade pediria para eu nao divulgar,rsrsrs