sexta-feira, 21 de maio de 2010

Como lidar com a morte do seu animal de estimação

A foto acima mostra uma equipe médica pioneira. Edlberto Rodrigues, Denise Fantoni, Teresinha Martins e Daniella Godoi são veterinários do primeiro ambulatório de cuidados paliativos para animais domésticos do Brasil. Eles amenizam o sofrimento de cães e gatos com doenças sem chance de cura. Mais do que isso: ajudam os donos a oferecer qualidade de vida e conforto para seus bichos de estimação quando mais precisam. Em um dos consultórios do Hospital Veterinário da Universidade de São Paulo (USP), a palavra sacrifício é a última a ser ouvida. Lá, a perspectiva da morte é trabalhada, mas deixada em segundo plano. O importante é oferecer um final de vida com menos sofrimento possível para animais portadores de doenças crônico-degenerativas, como o câncer, e dor extrema. Raríssima em animais, a prática dos cuidados paliativos representa uma mudança na visão da medicina veterinária que costumava determinar a eutanásia como o destino natural de um bicho velho ou doente.

Estima-se que existam 33 milhões de cães e 17 milhões de gatos no Brasil. Em grande parte dos lares do país, o animal é visto como alguém da família. O problema é que a expectativa de vida dos bichos, mesmo sendo maior hoje em dia, é curta em relação ao tempo que o dono viverá. Mais cedo ou mais tarde, ele terá que lidar com a perda do animal querido. Pensando como os médicos veterinários poderiam ajudar nesse momento, a professora Denise Fantoni decidiu acompanhar em 2005 a rotina de pacientes terminais do Hospital das Clínicas de São Paulo. A experiência possibilitou ao grupo de estudos chefiado por ela na USP conhecer os caminhos para a melhoria da qualidade de vida de pacientes com esse perfil. Denise percebeu ali que poderia aplicar o conceito de cuidados paliativos no mundo animal.

No ambulatório do Hospital Veterinário da USP, todos os animais têm algum tipo de doença que os levará à morte. O tratamento realizado no local consiste, basicamente, em um trabalho de medicação e orientação. Os veterinários receitam remédios para que o bicho não sofra com as dores da doença, acompanham a evolução do quadro clínico e ensinam aos proprietários medidas simples para melhorar a rotina dos animais, como fazer a vontade deles sempre que possível. “Em geral, um cachorro deve ser alimentado com ração. Mas nesse momento da vida isso deixa de fazer sentido”, diz Denise Fantoni. “Se ele gosta mais de comer carne ou macarrão, orientamos o dono a dar ao bicho o que ele quer.” Outro tipo de medida ensinada no ambulatório refere-se ao lugar em que o animal passará a maior parte do tempo. “É importante nessa escolha levar em conta o aumento da proximidade do cão com as pessoas da casa”, afirma Teresinha Martins, colaboradora do programa e veterinária. “Não é porque ele está com uma doença que deve ficar no quintal sozinho. Trazê-lo para dentro e dar muito carinho são essenciais.”

A equipe ainda recomenda aos proprietários rigor com o horário das medicações. Caso contrário, as dores – e o sofrimento do bicho – podem piorar. Os pacientes são acompanhados de perto pelos veterinários do ambulatório por meio de consultas semanais, quinzenais ou mensais. Dependendo do caso, eles fornecem seus telefones para que possam ser informados pelos donos sobre a evolução da doença.


A base dos cuidados paliativos no Hospital Veterinário da USP está em um questionário elaborado pela professora Denise e por sua ex-doutoranda, a veterinária Karina Yazbek. Ele é composto por doze perguntas feitas ao proprietário do animal a cada consulta (
ver quadro abaixo). As questões avaliam a disposição do bicho para comer, brincar, andar e dormir, entre outros aspectos. O seu resultado pode determinar a alteração ou não do tratamento. “É através das respostas que a equipe avalia se as medicações estão surtindo efeito para conter a dor”, diz Daniella Godoi, veterinária e outra colaboradora da equipe. “Se notarmos que não existe mais qualidade de vida para o bicho, a eutanásia se torna a única alternativa para acabar com o seu sofrimento.”

É quando a morte, até então em segundo plano no ambulatório, adquire forma. Vista por alguns como um fracasso, ela é enxergada pelos veterinários como a chave dos cuidados paliativos: “A morte não é um fracasso para o médico. Fracasso é não tratar o bicho com dignidade e respeito quando ele está à beira da morte. Nosso trabalho não é acrescentar dias de vida ao bicho, mas dar qualidade de vida aos poucos dias que ele tem”, afirma Teresinha.


Sexta-feira, 7 de maio. Maria e Tânia Sargiani, mãe e filha, estão apreensivas. Na sala de espera do ambulatório de dor e cuidados paliativos do Hospital Veterinário da USP, elas acariciam a vira-lata Neguinha e aguardam com tristeza o momento da consulta. A cadela está deitada sobre um lençol verde com motivos florais e parece não ter forças para ficar em pé. É a primeira vez que vem ao local.

Maria traz olheiras profundas no rosto. Um sinal de quatro noites mal dormidas. Na segunda-feira (3), a família Sargiani recebera a notícia que trouxe sofrimento para todos. Neguinha, de 10 anos, está com câncer. São três tumores que não podem mais ser extraídos: um no pulmão, um enraizado em um dos ossos da coluna e outro na região dos linfonodos (gânglios do animal onde ficam as células responsáveis pela defesa do organismo) – cerca de 80% dos cachorros tratados no ambulatório têm câncer. Depois de fazer todos os exames na área clínica do Hospital Veterinário, Neguinha foi encaminhada para a equipe de Denise Fantoni.


Maria e Tânia são recebidas por Teresinha Martins. A veterinária pega o prontuário e avalia as anotações feitas pela médica que atendeu a cadela no hospital pela primeira vez. A consulta começa:


– Eu sou a doutora Teresinha. Vocês vieram na segunda-feira ao hospital, certo?


– Isso mesmo. Ficamos desesperadas quando recebemos a notícia do câncer – responde Maria, com lágrimas nos olhos.


– Faz um mês que a Neguinha ficou doente – diz Tânia. Apareceu um carocinho no dorso dela e fomos até uma clínica particular que fica perto de casa. A veterinária disse que era um nervo sebáceo, que não deveríamos ficar preocupadas. Mas em um mês a Neguinha começou a emagrecer muito e o caroço não parou de crescer. Daí, resolvemos trazê-la até a USP e vocês descobriram o câncer. Infelizmente, não adianta mais operá-la.


– Eu acho que o trabalho desse ambulatório vai dar apoio pra gente, mais do que pra ela – afirma Maria acariciando a mascote da família. A Neguinha é como se fosse uma filha pra gente. Esta semana está sendo muito difícil, doutora. Não conseguimos dormir à noite, é preciso colocar máquina de oxigênio a todo instante porque ela fica com falta de ar. A gente não sabe quanto tempo isso vai durar, né? Porque é imprevisto. Está muito difícil mesmo...


– Bem, dona Maria, aqui, não vamos conseguir resolver o problema da Neguinha. Mas tentaremos por meio de medicação, de orientação geral, dar qualidade de vida pra ela. Nosso lema é qualidade de vida. Não sei se por uma semana ou por um mês. O importante é que ela viva bem o tempo que lhe é permitido – diz Teresinha. Não posso adiantar se o câncer evoluirá de uma forma mais rápida ou não, se vocês terão que decidir em algum momento o que vai ser feito, mas digo que precisam ter consciência disso.


– Prefiro nem pensar nessa possibilidade – diz Maria com a voz quase rouca.


Teresinha se levanta e começa a examinar Neguinha. Faz com que ela ande pelo consultório e avalia sua mobilidade. Alguns minutos depois, retoma a conversa com as proprietárias.

– Pelo que observei a Neguinha está consciente, lúcida, interagindo com o ambiente e anda com algumas dificuldades. O que devemos fazer agora é diminuir a dor provocada pelo câncer e cuidar dos problemas de coluna que surgiram em decorrência da idade – afirma Teresinha. Mas, em geral, ela está bem.


– É, hoje ela está bem melhor mesmo – diz Tânia.


– E isso é normal. Alguns dias ela estará melhor, outros não estará tão disposta. O que vocês estão dando pra ela comer?


– Ela come tanto ração, quanto comida – responde Maria.


– Então, dona Maria, a orientação que a senhora ouviu até hoje é que a ração para o animal é a melhor coisa. Mas, neste momento, o ideal é que a Neguinha se alimente. Se ela parar de comer, a situação clínica dela poderá piorar. Por isso, se a Neguinha quiser comer ração, a senhora deve dar. Se ela quiser comer arroz com frango, a senhora também deve dar. Ela gosta de fruta?


– Sim, ela come mexerica. Adora mexerica, laranja...


– Muito bom. Continuem dando essas frutas pra ela. Faz bem para o funcionamento do intestino.


Neste instante, Teresinha pega uma papeleta com uma escala de zero a dez e pergunta para Maria qual número representa a intensidade de dor que Neguinha está sofrendo naquele momento. Maria responde três. O critério, para muitos subjetivo, ajuda a avaliar a percepção do dono em relação à doença do bicho, explica a médica. A cada consulta o procedimento é repetido. “É uma medida necessária para que eu veja se meu trabalho está surtindo efeito”, diz Teresinha. “A partir do que o proprietário observa do comportamento do cão no dia a dia, posso ajustar o tipo de cuidado aplicado.”


Teresinha passa para a etapa final da consulta.


– A minha avaliação é que a cachorrinha de vocês está com um quadro clínico muito bom. Peço que mantenham a mesma medicação receitada pela clínica geral do hospital. Posso adiantar também que a Neguinha ficará um tempo conosco.


– Como assim? – questiona Maria de maneira assustada. Vocês vão interná-la?


– Não, calma, dona Maria! Quero dizer que vocês terão que voltar mais vezes aqui. Vamos marcar novas consultas.


– Ah, sim... Nossa, me deu um aperto no coração agora.


Tânia afirma que a família está bem abalada com a doença de Neguinha:


–Qualquer suspiro que a Neguinha dá pela noite a gente já acorda.


– Mas vocês estão acostumando ela mal – diz Teresinha. É bom dar conforto e atenção nesse momento, mas sem exageros.


– Nosso sofrimento aumentou muito depois da notícia... – afirma Maria.


– Isso não é bom pra vocês. Deixem ela viver a vida dela também. Relaxem! – diz Teresinha.


A consulta chega ao fim. Dentro de uma semana, Neguinha estará de volta para uma nova avaliação. Mais do que oferecer suporte médico, a equipe do ambulatório de dor e cuidados paliativos da USP precisa dar suporte emocional para os proprietários.


Na tarde em que Neguinha foi avaliada, o poodle Johnny, de 14 anos, também passou pelo ambulatório da USP. O animal começou a ser tratado ali em abril. No ano passado, um tumor foi identificado no baço do cachorro e extraído posteriormente em uma cirurgia. Mas a doença não desapareceu. E os efeitos da velhice só aumentaram. Johnny tem metástase do câncer na região dos linfonodos e graves problemas na coluna.

Assim como a cadelinha de Maria e Tânia Sargiani, Johnny é considerado um filho por sua proprietária, a psicóloga Denise Leite. Ela conta que decidiu criar o poodle por insistência de sua filha mais nova. Hoje, o cachorro virou parte essencial da família. “Eu trabalho o dia todo, mas sempre que posso dou um jeito de ir para casa e medicá-lo”, diz Denise. “Quando não posso, conto com a ajuda de uma pessoa que trabalha para mim.” Teresinha Martins afirma que Denise é uma proprietária muito dedicada e atenciosa, características fundamentais para o tratamento.


Casos como o de Johnny e Neguinha exigem preparo emocional dos veterinários envolvidos com os cuidados paliativos. Desde 2005, cerca de mil animais já foram atendidos no ambulatório. Em média, 400 consultas ocorrem todos os anos. É comum o proprietário demorar a aceitar a perspectiva da morte do seu bicho de estimação. “Atendemos pessoas que só vivenciam a perda quando chegam aqui”, diz Teresinha. “Por isso, precisamos ser um pouco psicólogos.” Professora da Faculdade de Medicina Veterinária da USP desde 1992, Denise Fantoni afirma que não consegue deixar de se envolver com as histórias e prefere atuar nos bastidores. “Choro mais que o proprietário”, conta. Ela lembra até hoje do caso de um italiano que veio ao consultório com sua cadela, uma labradora. Ela tinha um tumor no baço. Os cuidados paliativos estavam em andamento quando o tumor rompeu. “O proprietário chegou desesperado com a cadela no colo. Ela estava morrendo. Ele me abraçou e disse: ‘E agora, doutora? O que a gente faz? Se fosse a sua cachorra, a senhora sacrificava ou não?’. Depois disso, eu comecei a chorar no ombro dele. Foi algo muito triste”, diz Denise.

O momento da decisão do sacrifício é a etapa final do ciclo de cuidados paliativos. Isso significa que o bicho não está mais respondendo bem ao tratamento e começa a sofrer. “A gente estuda para salvar, não para matar”, diz Edlberto Rodrigues. “Mas eu acredito que a ferramenta da eutanásia quando bem utilizada é fundamental”, afirma Daniella Godoi. Apesar de concordar, Teresinha faz uma ressalva: “A eutanásia não é o nosso foco. Embora ela exista, nosso objetivo é trabalhar o proprietário para que ele dê o melhor tipo de cuidados ao seu animal. Seja por um, seja por vários dias.”


*Após a publicação da reportagem, fomos informados por meio do comentário de Tânia Sargiani (
leia abaixo) que a vira-lata Neguinha morreu. Na madrugada de domingo (9) para segunda, o estado de saúde da cadela piorou. Na terça-feira pela manhã, Neguinha foi levada ao Hospital Veterinário da USP e teve que ser sacrificada. “Foi bastante difícil tomar essa decisão”, disse Tânia. “Mas não podíamos ser egoístas e deixar ela sofrer.”


AVALIAÇÃO
O questionário aplicado pelos veterinários do ambulatório de dor e cuidados paliativos da USP. Ele ajuda a melhorar a qualidade de vida dos animais
1.

Você acha que a doença atrapalha a vida do seu animal?

2.

O seu animal continua fazendo o que gosta (brincar, passear...)?

3.

Como está o temperamento do seu animal?

4.

O seu animal manteve os hábitos de higiene (lamber-se, por exemplo)?

5.

Você acha que o seu animal sente dor?

6.

O seu animal tem apetite?

7.

O seu animal se cansa facilmente?

8.

Como está o sono do seu animal?

9.

O seu animal tem vômitos?

10.

Como está o intestino do seu animal?

11.

O seu animal é capaz de se posicionar sozinho para fazer as necessidades fisiológicas?

12.

Quanta atenção o animal está dando para a família?

segunda-feira, 17 de maio de 2010

ALGO EM COMUM: "Mercadão das Almas" SP e "Corredor da Crueldade" / Mercado Cental BH???


Olhar Literário – Laerte Fernando Levai

Sobre o Mercadão das Almas

12 de abril de 2010

Em fins de 2004, no site da Vegan Pride, Adriana Bernardino escreveu uma crônica contundente falando dos horrores sofridos pelos animais expostos à venda no mercado municipal Kenji Yamamoto, na Cantareira, em São Paulo. Até então nenhuma autoridade municipal se importava com esse assunto, apesar dos protestos das entidades protetoras e dos sucessivos pedidos de providências protocolados pelo combativo advogado Rogério S. G. Gonçalves. Os animais, adultos e filhotes, vivos ou mortos, ou mortos-vivos, se preferirem, ali nada mais representavam que simples objetos de consumo: para abate, para alimentação, para rituais religiosos. Retalhados nos açougues ou paralisados de medo nas gaiolas, como bem definiu a autora, eles eram tratados como máquinas insensíveis, peças descartáveis, instrumentos para uso e gozo de seus algozes. Um campo de concentração zootécnico, aberto aos olhos de quem quisesse ver. E o poder público permanecia cego diante das evidências de crueldade.

O texto “Mercadão das Almas”, que ela ilustrou com fotografias da barbárie, fala por si. Imagens que traduziam toda a dor do mundo contida na expressão suspensa dos porcos decapitados, no olhar acuado de galos, coelhos, bodes e cabritos. Olhos que em vão pediam socorro, que em vão imploravam misericórdia. Prefiro não mais usar as fotografias, em homenagem à memória desses animais torturados e mortos. Prefiro me valer, tão somente, da força indestrutível das palavras de Adriana Bernardino. Mas houve um momento, conforme admitido pela própria autora, em que ela fraquejou: quis comprar um coelho que lhe lambera os dedos, em súplica, e, assim, salvá-lo da morte. Foi desaconselhada, todavia, a não fazê-lo, sob a justificativa de que tal atitude, embora compassiva, representaria um estímulo ao comércio perverso no mercado das almas. De qualquer modo, com o coração partido, a autora resolveu escrever sobre o que viu. Seu texto, certamente, contribuiu para que as coisas começassem a mudar.

É impressionante como o poder das palavras é capaz de ensejar transformações. Ativismo literário que desperta consciências, que pugna por justiça, que abre gaiolas, que liberta. A divulgação desse texto, pela internet, mexeu com a opinião pública, tanto que alguns meses depois as autoridades administrativas decidiram proibir a venda de animais vivos naquele estabelecimento. É claro que a medida restritiva é apenas um passo no ideal abolicionista, mas, convenhamos, um importante passo. Há centenas de mercados das almas no Brasil, com milhares de animais transfigurados pelo medo e pela dor – exatamente com ela descreveu -, bichos empalhados e que ainda respiram. Não fosse a iniciativa de algumas poucas pessoas que se indignaram com a situação, ninguém, absolutamente ninguém, intercederia em defesa das vítimas indefesas. E pensar que nosso país possui legislação proibitiva de abusos, de maus-tratos e de crueldade para com animais. Como pode…?

Melhor não dizer mais nada. Que os leitores, ao menos aqueles que ainda não conhecem o texto de Adriana Bernardino, tirem suas próprias conclusões com a leitura de “Mercadão das Almas”, que considero uma das mais belas páginas literárias que já li em favor dos animais. Crônica ativista, eu torno a dizer, porque escrita com todo o sentimento aflorado de uma alma sensível e inconformada. São ações como essas que fazem a diferença, que nos devolvem a esperança, que resgatam a crença na justiça e que nos permitem seguir em frente, na busca de tempos melhores para todos. Deixo-lhes, a partir de agora, com Adriana Bernardino:


MERCADÃO DAS ALMAS

“Porque os anjos têm asas como as aves.
Porque os homens têm pelos como os bichos.
E todos nós temos alma como Deus!”
(São Francisco de Assis)


Há homens morrendo em todos os cantos do planeta. Mortes horrendas, desnecessárias. E há homens que, enquanto não morrem, assistem ao espetáculo da violência, faces da morte distribuídas por canais de TV, pedaços de corpos disputados por jornais e revistas. É este o programa da família. Crianças acostumadas, desde a mais tenra idade, ao sadismo de seu semelhante.

Será esse o motivo? Eu procuro um motivo que justifique a frieza do homem diante do sofrimento do outro, seja lá que outro for. Foi assim com Sócrates, Cristo, Zumbi, Gandhi, Martin Luter King, Tiradentes, Lennon, garotos arremessados de um trem em movimento e tantos outros que, a seu modo, exerciam ou lutavam pela liberdade e pela paz, mas foram premiados com a cruz, com a faca, com a bala, com a bomba, com a tortura, carentes de inteligência e de sanidade.

Quais são mesmo os motivos? Ainda não sei. Ser humano sem humanidade? É um triste paradoxo. Como se um peixe que não soubesse nadar, como uma águia que se recusasse a voar. Estou perplexa.

Aqui, no Mercado da Cantareira, em São Paulo, acompanhada de meu amigo Christopher, essas interrogações me invadem. Esses porquês.

Como é que esses homens, sem humanidade, vão-se comover com animais amontoados em gaiolas, implorando por socorro, por misericórdia?

Há, por exemplo, um box especializado em venda de animais para rituais religiosos. Há pequenos bodes, cabritos e galos pretos à espera do sacrifício. Os primeiros nem lutam mais pela vida. Chegaram a lutar antes de entrar num caminhão, a milhares de quilômetros daqui. Chegaram a lutar dentro do caminhão – com berros, com chifradas – por ar, por água, por comida. Agora, presos numa cela de azulejos brancos, eles se ferem um aos outros.

Estão cegos, paralisados pelo medo e pela dor. Acaricio a cabeça de um deles, que não reage. Parece um animal empalhado. Só sei que está vivo porque o corpo esquelético respira.

Uma pessoa se aproxima. Olha os galos pretos, que gritam inconformados. Eles são valentes. Ela escolhe um. O dono do box – um homem branco, gordo, com uma expressão tão fria quanto a de um manequim de loja (terá filhos? terá um amor?) – o dono do box abre a gaiola e agarra o animal pelas pernas. O galo bem que tenta reagir: grita, bate as asas, imponente. O dono, então, levanta-o e, com precisão, arremessa sua cabeça contra a parede. Não, o bicho não morre. O homem é “bom” no que faz. Deixa-o em estado de choque, entre a vida e a morte. Porque seu novo dono o quer vivo: o ritual exige seu sangue quente.

O funcionário do box, mais falante, diz que tem dó dos bichos. Mas o que se há de fazer? “Nós cuidamos deles, passamos remédio nos olhos feridos. Mas eles se ferem novamente”, explica o rapaz, o erro dos bichos.

Chega? Não. Há também os coelhos. Um deles, cujo valor foi estabelecido em trinta reais, lambeu meus dedos quando o peguei no colo. Nunca tinha visto isso. Queria levá-lo comigo; entretanto, Christopher me disse que seria um incentivo à continuidade daquele comércio. Não levei. Hoje, sinceramente, arrependo-me.

Eu não queria ver mais nada. Mas ninguém entra num local desses impunemente. É preciso ir ao Mercado Municipal, próximo ao da Cantareira, onde também há animais. Estes, por sua vez, estão todos mortos. São exibidas cabeças de porcos dentro de um freezer transparente com o nome de “Porco Feliz”. E um anúncio grande num outro box, com os dizeres: “temos filhotes de javali”. Sim, tem gente que faz sua ceia de Natal com filhote de javali.

Estou cansada. Não aguento mais ver essas fotos nem escrever sobre o que vi. Eu só espero que as pessoas – nas festas de Natal e Ano Novo – valorizem mais o amor do que cadáveres sobre a mesa, façam mais amor do que rituais sangrentos. Porque a vida nos dá o que damos a ela. Só teremos um ano melhor se plantarmos, uma a uma, as sementes dos frutos que queremos colher.

Eu desejo a todos vocês que saibam semear com sabedoria.

Adriana Bernardino

O QUE É SER UM PROTETOR DE ANIMAIS?


InfoSentiens

15/05/2010

Por Lilian Rockenbach

Hoje em dia a proteção animal virou um modismo. Muita gente acha bacana dizer que é “Protetor de Animais”, mas o que exatamente ser um “Protetor de Animais”?
Para começar gostaria de esclarecer que proteger animais não é chamar uma ONG ou ligar para um protetor independente quando um animal está sendo mal tratado. Proteger animais também não é ficar no computador apenas repassando pedidos de ajuda, nem se sentir no direito de exigir e cobrar que pessoas ligadas a causa façam o que você considera certo fazer. Estas são apenas formas de divulgar ações e necessidades ligadas a causa, e não a proteção em sua essência.

Em primeiro lugar é importante saber que protetores de animais são pessoas iguais a você, eles trabalham, estudam, possuem família, filhos, quintal pequeno, moram em apartamento em alguns casos, mas decidiram arregaçar as mangas e fazer a diferença. Um dia desses eu ouvi que “ser protetor de animais é um apostolado”, e isso significa você dedicar sua vida, seu tempo e seu dinheiro a uma causa que muito provavelmente “nunca” lhe trará nenhum retorno material. Consiste também em mudar seus hábitos alimentares (parar de consumir carne), hábitos de diversão (rodeios, vaquejadas, touradas, feiras de exposição, de exploração, de competição, etc.), hábitos de consumo (roupas de origem animal como casacos de pele, etc.), hábitos em geral.
O “protetor de animais” muda sua visão em relação a vida, passa a respeitar toda forma de vida, passa a lutar pela defesa dos direitos dos animais, pela castração, pela adoção, por leis mais rígidas e que os defendam, pela conscientização da população, contra a exploração animal em todas as suas formas, contra o comercio de animais, etc.
Ninguém muda estes hábitos facilmente, nenhuma pessoa que conheço amanheceu e disse: a partir de hoje sou um protetor de animais e vou deixar de fazer tudo o que fiz a minha vida inteira. A vontade de ajudar nos impulsiona a levantar e ir, com o tempo criamos cada vez mais a consciência em relação aos assuntos relacionados à causa, nossos hábitos são mudados aos poucos e gradativamente. É uma luta pessoal contra nós mesmo, e em alguns casos, contra nossos familiares que não conseguem entender e aceitar essa mudança.

Ser um “protetor de animais” é ter responsabilidade social de maneira totalmente independente da caridade. Promover a conscientização em relação ao respeito dos animais é uma das bandeiras mais importantes da causa, fazer com que as pessoas enxerguem que o animal tem uma vida que precisa ser respeitada, é uma batalha constante. Os animais existem da mesma maneira que todos nós, possuem suas individualidades e não estão aqui para nos servir.

Os defensores dos animais devem ser felizes com sua bandeira, devem se orgulhar do que fazem. Se defender animais te trouxer algum tipo de angústia, talvez seja a hora de repensar e mudar de causa. Os animais precisam de pessoas sensatas, que estejam sempre empenhadas em aprender, que estejam dispostas a tentar mudar o mundo, mas se conseguirem mudar apenas a pessoa que está ao seu lado, já fizeram muito mais do que 99% da população. Os animais não podem se defender, eles só têm a nós, seres humanos, para defendê-los, e exatamente por isso temos que nos manter equilibrados para fazê-lo, e fazer com prazer, paixão e de maneira otimista. Pessoas agressivas e desacreditadas, não apenas na causa animais mas em todas as causas, geralmente não conseguem atingir seus objetivos na sociedade, pois não conseguem desenvolver o potencial necessário para valorizar a causa que defendem.

Tenha sempre a frente, e como referência, pessoas inseridas na causa e que desenvolvam um trabalho baseado na seriedade e, acima de tudo, idoneidade. Fuja dos falsos protetores, pessoas que estão inseridas na causa tentando tirar benefícios materiais ou prestígio. Acredite em você e em seus objetivos, arregace as mangas e faça, não tenha projetos alimentados apenas pela esperança, estabeleça objetivos e metas, faça você também a diferença. Pense qual a melhor forma de ajudar os animais, quais os seus pontos fortes, se você gostaria de trabalhar com resgates, com adoção, com maus tratos, com educação, contra exploração, etc. Acredite em você, e dê o seu melhor.
Abrace uma causa, qualquer causa, mas faça-o com responsabilidade e de coração aberto. Mude seus conceitos, abandone os preconceitos e faça a diferença.

Existem 3 tipos de pessoas: As que fazem acontecer, as que deixam acontecer e as que perguntam o que aconteceu? (John Richardson Jr)

Lilian Rockenbach - http://migre.me/Fi9a

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