DEPOIMENTO de quem recebeu
uma MISSÃO e cumpriu. E que não tem sua história publicada em
nenhum livro adotado pelo MEC. É uma história de quem VIVEU a
triste e dura SITUAÇÃO da época. Em 1961, em pleno governo Jânio
Quadros, Jover Telles, Francisco Julião e Clodomir dos Santos
Morais estavam em Cuba acertando cursos de guerrilha e o envio de
armas para o Brasil. Logo depois, alguns jovens eram indicados para
cursos na China e em Cuba. Bem antes de 1964 a área do Araguaia já
estava escolhida pelo PC do B para implantar a guerrilha rural.
Em 1961 estávamos em
plena democracia. Então para que eles estavam se organizando?
Julião já treinava as suas Ligas Camponesas nessa época, que eram
muito semelhantes ao MST de hoje. Só que sem a organização, o
preparo, os recursos, a formação de quadros e a violenta
doutrinação marxista dos atuais integrantes do MST.
E foi com essa propaganda
mentirosa que eles iludiram muitos jovens e os cooptaram para as
suas organizações terroristas.
Então, começaram os
atentados a bomba. assaltos e assassinatos.
Foram vários atos
terroristas: o atentado ao aeroporto de Guararapes, em Recife, em
1966; a bomba no Quartel General do Exército em São Paulo, em
1968; o atentado contra o consulado americano; o assassinato do
industrial Albert Boilesen e do capitão do Exército dos Estados
Unidos Charles Rodney Chandler; o assassinato a tiros de
metralhdora, pelas costas, do marinheiro inglês David Cuthberg,
seqüestros de embaixadores estrangeiros no Brasil .
A violência
revolucionária se instalou. Assassinatos, ataques a quartéis e a
policiais aconteciam com freqüência.
Nessa época, eles
introduziram no Brasil a maneira de roubar dinheiro com assaltos a
bancos, a carros fortes e a estabelecimentos comerciais. Foram eles
os mestres que ensinaram tais táticas aos bandidos de hoje.Tudo
treinado nos cursos de guerrilha em Cuba e na China.
As polícias civil e
militar sofriam pesadas baixas e não conseguiam , sozinhas, impor a
lei e a ordem.
Para combater com
eficiência o caos que estava se instalando, o governo decretou o
AI-5, pelo qual várias liberdades individuais foram suspensas. Foi
um ato arbitrário mas necessário. A tênue democracia que vivíamos
não se podia deixar destruir.
Para combater o
terrorismo, o governo criou uma estrutura com a participação dos
Centros de Informações da Marinha (CENIMAR), do Exército (CIE) e
da Aeronáutica (CISA). Todos atuavam em conjunto, tanto na
guerrilha rural quanto na urbana. O Exército, em algumas capitais,
criou o seu braço operacional, os Destacamentos de Operações de
Informações ( DOI). Para trabalharem nos diversos DOI do Brasil, o
Exército selecionou do seu efetivo alguns majores, capitães e
sargentos. Eram, no máximo, 350 militares, entre os 150 mil homens
da Exército.
Eu era major, estagiário
da Escola de Estado Maior. Tinha na época 37 anos e servia no II
Exército, em São Paulo. Num determinado dia do ano de 1970, fui
chamado ao gabinete do comandante do II Exército, general José
Canavarro Pereira, que me deu a seguinte ordem: "Major, o
senhor foi designado para comandar o DOI/CODI/II Ex. Vá, assuma e
comande com dignidade".
A partir desse dia minha
vida mudou. O DOI de São Paulo era o maior do país e era nesse
Estado que as organizações terroristas estavam mais atuantes. O
seu efetivo em pessoal era de 400 homens. Destes, 40 eram do
Exército, sendo 10 oficiais, 25 sargentos e 5 cabos. No restante,
eram excelentes policiais civis e militares do Estado de São Paulo.
Esses foram dias terríveis! Nós recebíamos ameaças
freqüentemente.
Minha mulher foi de uma
coragem e de uma abnegação total. Quando minha filha mais velha
completou 3 anos de idade, ela foi para o jardim da infância,
sempre acompanhada de seguranças. Minha mulher não tinha coragem
de permanecer em casa, enquanto nossa filha estudava. Ela ficava
dentro de um carro, na porta da escola, com um revólver na bolsa.
Não somente nós passamos
por isso! Essa foi a vida dos militares que foram designados para
combater o terrorismo e para que o restante do nosso Exército
trabalhasse tranqüilo e em paz.
Apreendemos em "aparelhos"
os estatutos de, praticamente, todas as organizações terroristas e
em todos eles estava escrito, de maneira bem clara, que o objetivo
da luta armada urbana e rural era a implantação de um regime
comunista em nosso país.
Aos poucos o nosso
trabalho foi se tornando eficaz e as organizações terroristas
foram praticamente extintas, por volta de 1975.
Todos os terroristas
quando eram interrogados na Justiça alegavam que nada tinham feito
e só haviam confessado os seus crimes por terem sido torturados.
Tal alegação lhes valia a absolvição no Superior Tribunal
Militar. Então, nós passamos a ser os " torturadores".
Hoje, como participar de
sequestros, de assaltos e de atos de terrorismo passou a contar
pontos positivos para os seus currículos eles, posando de heróis,
defensores da democracia, admitem ter participado das ações. Quase
todos continuam dizendo que foram torturados e perseguidos
politicamente. Com isso recebem indenizações milionárias e ocupam
elevados cargos públicos. Nós continuamos a ser seus "
torturadores" e somos os verdadeiros perseguidos políticos. As
vítimas do terrorismo até hoje não foram indenizadas.
O Brasil com toda a sua
população e com todo seu tamanho teve, até agora, 120 mortos
identificados, que foram assassinados por terroristas, 43 eram civis
que estavam em seus locais de trabalho ( estima-se que existam mais
cerca de 80 que não foram identificados ); 34 policiais militares;
12 guardas de segurança; 8 militares do Exército; 3 agentes da
Polícia Federal; 3 mateiros do Araguaia; 2 militares da Marinha; 2
militares da Aeronáutica; 1 major do Exército da Alemanha; 1
capitão do Exército dos Estados Unidos; 1 marinheiro da Marinha
Real da Inglaterra.
A mídia fala sempre em
"anos de chumbo", luta sangrenta, noticiando inclusive que
, só no cemitério de Perus, em São Paulo, existiriam milhares de
ossadas de desaparecidos políticos. No entanto o Grupo Tortura
Nunca Mais reclama um total de 284 mortos e desaparecidos que
integravam as organizações terroristas. Portanto, o Brasil, com
sua população e com todo o seu tamanho, teve na luta armada, que
durou aproximadamente 10 anos, ao todo 404 mortos.
Na Argentina as mortes
ultrapassaram 30.000 pessoas; no Chile foram mais de 4.000 e no
Uruguai outras 3.000. A Colômbia, que resolveu não endurecer o seu
regime democrático, luta até hoje contra o terrorismo. Ela já
perdeu mais de 45.000 pessoas e tem 1/3 do seu território dominado
pelas FARC.
Os comunistas brasileiros
são tão capazes quanto os seus irmãos latinos. Por que essa
disparidade?
Porque no Brasil dotamos o
país de leis que permitiram atuar contra o terrorismo e também
porque centralizamos nas Forças Armadas o combate à luta armada.
Fomos eficientes e isso tem que ser reconhecido. Com a nossa ação
impedimos que milhares de pessoas morressem e que esta luta se
prorrogasse como no Peru e na Colômbia.
No entanto, algumas
pessoas que jamais viram um terrorista, mesmo de longe, ou preso,
que jamais arriscaram as suas vidas, nem as de suas famílias,
criticam nosso trabalho. O mesmo grupo que só conheceu a luta
armada por documentos lidos em salas atapetadas e climatizadas
afirma que a maneira como trabalhamos foi um erro, pois a vitória
poderia ser alcançada de outras formas.
Já se declarou,
inclusive, que: " a ação militar naquele período não foi
institucional. Alguns militares participaram, não as Forças
Armadas. Foi uma ação paralela".
Alguns também nos
condenam afirmando que, como os chefes daquela época não estavam
acostumados com esse tipo de guerra irregular, não possuíam
nenhuma experiência. Assim, nossos chefes, no lugar de nos darem
ordens, estavam aprendendo conosco, que estávamos envolvidos no
combate. Segundo eles, nós nos aproveitávamos dessa situação
para conduzir as ações do nosso modo e que, no afã da vitória,
exorbitávamos .
Mas as coisas não se
passavam assim . Nós que fomos mandados para a frente de combate
nos DOI, assim como os generais que nos chefiavam, também não
tínhamos experiência nenhuma. Tudo o que os DOI faziam ou deixavam
de fazer era do conhecimento dos seus chefes. Os erros existiram,
devido à nossa inexperiência, mas os nossos chefes eram tão
responsáveis como nós.
Acontece que o nosso
Exército há muito tempo não era empregado em ação. Estava
desacostumado com a conduta do combate, onde as pessoas em operações
têm que tomar decisões, e decisões rápidas, porque a vida de
seus subordinados ou a vida de algum cidadão pode estar em perigo.
Sempre procurei comandar
liderando os meus subordinados. Comandei com firmeza e com
humanidade, não deixando que excessos fossem cometidos. Procurei
respeitar os direitos humanos, mas sempre respeitando, em primeiro
lugar, os direitos humanos das vítimas e, depois, os dos bandidos.
Como escrevi em meu livro "Rompendo o Silêncio ",
terrorismo não se combate com flores. A nossa maneira de agir
mostrou que estávamos certos, porque evitou o sacrifício de
milhares de vítimas, como aconteceu com os nossos vizinhos. Só
quem estava lá, frente a frente com o terroristas, dia e noite, de
arma na mão, pode nos julgar.
Finalmente, quero lhes
afirmar que a nossa luta foi para preservar a democracia. Se o
regime implantado pela Contra -Revolução durou mais tempo do que
se esperava, deve-se, principalmente, aos atos insanos dos
terroristas. Creio que, em parte, esse longo período de exceção
deveu-se ao fato de que era preciso manter a ordem no país.
Se não tivéssemos
vencido a luta armada, hoje estaríamos vivendo sob o tacão de um
ditador vitalício como Fidel Castro e milhares de brasileiros
teriam sido fuzilados no "paredón" ( em Miami em
fevereiro, foi inaugurado por exilados cubanos, um Memorial para
30.000 vítimas da ditadura de Fidel Castro).
Hoje temos no poder muitas
pessoas que combatemos e que lá chegaram pelo voto popular e
esperamos que eles esqueçam os seus propósitos de 40 anos passados
e preservem a democracia pela qual tanto lutamos.
CARLOS ALBERTO BRILHANTE
USTRA