sábado, 31 de outubro de 2009

NOSSO CACHORRO ARU


NOSSO CÃO ARU, MEUS 3 FILHOS MENORES: CÉSAR AUGUSTO, CÍCERO E LÍVIA, O MAIS ALTO ATRÁS O  CUIDADOR DO BELO  COLLIE ARU-OURO PRETO/MG-1985

Quando eu tive meu quarto filho em 1985, eu ganhei um filhote. Era um lindo cachorro da raça Collie, preto, branco e bege, com uns dois meses de idade. Sua mãe viera do R. G. do Sul, por isso lhe deram o nome do vento que sopra no sul: Aru. Cuidava dele com os mesmos cuidados maternos que dispensava a minha filhinha recém-nascida. Ele corria e brincava alegre com as outras três crianças. E crescia e se tornava um belo cão, com longos pelos.

A minha filha recém-nascida, porém, teve problemas de rejeição do leite materno e iniciou-se um período muito difícil, pois quando eu a amamentava, ela vomitava tudo e foi perdendo peso. Morando longe dos familiares, quase sozinha porque meu marido, militar, tinha muitos compromissos, eu tinha que cuidar dos quatro filhos, numa cidade onde tudo era muito difícil. Inexperiente e receosa pelo terrorismo que os órgãos sanitários nos passam de que os animais domésticos são transmissores de muitas zoonoses, me afastei de Aru.
 
Uma manhã, o encontramos prostrado, cabisbaixo, lá no seu canto. Liguei pro veterinário, passei os sintomas, ele disse ser desidratação e recomendou que eu desse os mesmos remédios que se dá às crianças: soro caseiro, gelatina líquida, etc. Preparei tudo, mas não me aproximava dele. Deixei que meu marido o cuidasse. E assim, deitado, ele ficou por vários dias até que um dia, desci ao terreiro onde ele permanecia deitado, tomando sol. Agachei-me próxima a ele, para catar algo no chão. Impetuosamente ele me lambeu toda, me abraçou, eu o acariciei e ele levantou-se com toda a energia e subia e descia as escadas na maior alegria. Aí eu percebi que ele não tinha enfermidade, ele sentia era a minha falta, falta do meu afago, de minha proximidade. Então, procurei dar-lhe mais atenção. Como ele já estava grande, forte, com longos pelos, contratei um jovem para passear com ele, dar-lhe banho e lhe escovar.

Diante de tantas dificuldades que enfrentava, naquela localidade de poucos recursos, não havia outra alternativa, a não ser retornar a minha cidade. Era ano de 1986, Plano Cruzado, faltava leite nas prateleiras, havia dificuldade de alugar imóveis devido aos altos preços. Aluguei um apartamento no centro da cidade, local de fácil acesso para que meus familiares me auxiliassem no meu dia-a-dia. 
Nesse apartamento, porém, Aru ficava confinado num pequeno espaço. Já adulto, nesse espaço reduzido, sem que eu pudesse levá-lo para passear, levei-o para casa de minha mãe, onde havia uma área maior. Coloquei-o no carro e lá o deixei.

Os dias se passavam. Quando íamos ver minha mãe, também o encontrávamos. Meu pai, já idoso, teve uma isquemia, e estava em convalescência quando minha mãe me deu notícia de que Aru havia sumido. Naqueles dias frios de Barbacena, com a garoa encobrindo toda a cidade, meu pai, pondo em risco a própria saúde, saiu à sua procura. Então, numa madrugada gelada, ouvi batidas fortes na porta e senti muito medo porque estava só, com minhas quatro crianças e morando numa rua de muito movimento. Fiquei escutando. Então ouvi algo arranhando a porta. Aí compreendi tudo. Desci os dez degraus que me levavam à porta, abri e era ele mesmo: Aru. Ele subia e descia as escadas ganindo de alegria e foi cheirar as crianças. Mas, não havia como ele ficar ali. Levei-o novamente para a casa de meus pais.

Certo dia, César e Cícero, meus dois filhos mais velhos, em casa de mamãe, resolveram dar banho em Aru, debaixo do chuveiro. Minha mãe, lá no tanque, lavava roupas, enquanto ouvia notícias, pelo rádio. Os dois puseram a corrente no pescoço de Aru e a prenderam na torneira do chuveiro. Só que o chuveiro estava dando choque há dias, então começou a dar choques no cão, que começou a se debater. Meu filho, descalço, tentou tirar a corrente, mas ficou agarrado. Começaram a gritar, pedindo ajuda. Minha mãe, ouvindo rádio, lá fora, achou que estavam se divertindo e fazendo algazarra. Desesperado, o outro filho, de chinelos, deu um puxão no que estava descalço. E nesse desespero, Aru já agonizava, e morreu eletrocutado. Foi uma tristeza geral. E constatamos que ele morreu, no lugar que poderia ser de uma criança. Lá estava o perigo, e a morte do animal foi o alerta
 
Após toda essa experiência, com Aru, e sua morte, nenhum de nós nunca mais foi o mesmo. Ficamos todos desolados e traumatizados. Todos os cuidados e afeto que lhe demos ainda foram pouco em comparação à sua fidelidade e amor para conosco. “Os animais são os irmãos mais novos dos homens. Eles também, como nós, vêm de longe, através de lutas incessantes e redentoras, e são, como nós, candidatos a uma posição brilhante na Espiritualidade”, nas palavras de Emmanuel.

Após leitura e conhecimento mais profundo sobre os animais, sua senciência (sentem como nós, alegria, amor, ciúme, dor, tristeza e outros sentimentos), refletimos que temos sim que tratá-los como irmãos menores, ajudando-os na sua caminhada evolutiva. Há muito, ainda, a conhecer sobre os animais não-humanos em geral, mas na sua arrogância os humanos só os vêm como “produtos” a serem explorados. Convivendo com os animais percebo o quanto eles têm a nos ensinar.
Graça Leal

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