sábado, 31 de outubro de 2009

HISTÓRIA DE UM PORQUINHO.

Nossa casa, em Barbacena, ficava numa grande área com muita vegetação. Sempre tínhamos gatos, cachorros convivendo conosco. Meus pais criavam porcos para a nossa alimentação.

 Os víamos no chiqueiro, brincávamos com eles, jogávamos comida e quando chegava o dia do abate, ouvíamos apavorados, os seus gritos de dor. Mas, na panela, ao comê-los achávamos que a vida era assim mesmo porque não tínhamos nenhuma outra conscientização sobre o direito à vida que tem todo ser vivo.

 A religião dominante na época nunca esclareceu nada a esse respeito. Não tínhamos acesso a outras informações. Não havia ainda computador e não tínhamos televisão, por ser um luxo. E assim, as coisas caminhavam.

Um dia, apareceu um leitãozinho. Não me lembro o porquê dele ser mantido solto no quintal. Brincávamos e corríamos com ele. 

Quando íamos à vendinha buscar pão ou qualquer outro gênero alimentício, ele ia atrás, nos seguindo. Ficava, dentro de casa, e quando íamos para a cama, ele subia para dormir conosco.

 Nós cuidávamos dele como de um cão e ele se comportava como tal. Na nossa inocência de criança, aquilo era normal.

Numa manhã, mamãe foi preparar a comida do leitãozinho, deixou o fubá na bacia, e foi buscar a água para fazer a mistura. Nosso querido amiguinho, sempre muito guloso, foi comer o fubá seco e antes que pudéssemos o acudir, morreu entalado. Toda tentativa de salvá-lo foi em vão.

Sofremos, imensamente. Um animal admirável morrer de forma impensada.

 O comportamento daquele animal ficou na nossa memória. Ele nos demonstrava fidelidade, afeto, companheirismo e nós, ignorando tudo isto, certamente, mais tarde o comeríamos.

Passado muito tempo, minha filha, aos quinze anos, fazendo uma excursão do colégio na cidade de Bambuí, presenciando como os porcos são mortos, voltou arrasada e nunca mais comeu carne, tornando-se vegana: não come e não usa nada que traga sofrimento para os animais. Com seu exemplo,sua perseverança me tornei , também,vegetariana.

Agora, voluntária da Causa Animal, leio sobre vasta pesquisa de homens que já tinham o respeito e defendiam o direito à vida de todo ser vivente. Aprendo que nos Estados Unidos a primeira lei para proteger os animais data de 1866, já a lei para proteger as crianças data de 1873, portanto, posterior à dos animais.

Mesmo diante de toda a demonstração de fidelidade, inteligência e sensibilidade do porquinho, isso não nos impediria de comê-lo. Escondemo-nos atrás de duas palavras – Cultura e Tradição – para manter nosso comodismo.

Com todas as informações obtidas através dos avançados meios de comunicação, mesmo com questionamentos, depoimentos de filósofos, pensadores, cientistas, biólogos e religiosos, preferimos manter hábitos arraigados que são fomentados pelo alto poder de persuasão da indústria alimentícia nos incitando ao consumo exagerado de produtos animais. E mentem ao afirmar que não podemos viver sem a proteína animal.

Estamos sempre aprendendo este é um dos motivos de nossa existência. Não importa a idade, cada dia nos traz uma nova oportunidade .É preciso estar aberto mesmo que esta oportunidade de aprendizagem seja trazida pelo convívio com os animais.

“Os porcos são muitas vezes comparados a cães, por serem animais simpáticos, leais e inteligentes. Na verdade os porcos são ainda mais inteligentes do que os cães. Se tivessem oportunidade de o fazer, e se fossem bem tratados, conviveriam com gosto com os humanos, que lhes despertam tanta curiosidade.

 Estudos recentes de especialistas em psicologia e cognição animal mostraram que os porcos conseguem saber o que passa pela cabeça de outros porcos. Têm também grande autonomia, tomando as suas próprias decisões de modo a conseguirem alcançar os objetivos que pretendem. Animais admiráveis, os porcos sonham, reconhecem os seus nomes, gostam de ouvir música, de brincar com bolas e outros objetos, e, à semelhança dos humanos, gostam muito de receber massagem. ( www.gatoverde.com.br)

Graça Leal

2 comentários:

  1. Lendo sua história, vejo muitas semelhanças com a minha. Assim como vc, convivi com vários animais na fazenda onde nasci. Tinha uma preocupação especial com os gatinhos e pintinhos, qdo ficavam doentes. Também brincava com os porquinhos como as crianças de hoje, brincam com cãezinhos e gatinhos. A diferença é que as crianças de hoje, não perdem seus amigos de estimação para a panela...

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  2. Tadinho do porquinho. :-(

    Sabe, eu ainda como carne, embora muito pouco. Mas o que eu ia dizer é que não acho que comer carne seja de todo mal, o que acho errado é o rumo que isso tudo tomou. Mas vou explicar.

    Antigamente a coisa era feita com mais dignidade. O bichinho vivia solto, tinha uma "vida social", respirava o ar da natureza, interagia com ela e quando chegava a hora do abate, era tudo feito com muito respeito e consideração, ao contrário do ritmo industrial que a coisa ganhou, com animais vivendo confinados a vida inteira, com altas doses de hormônios, sofrimento, dor, stress, medo... isso sim eu acho errado.

    É uma pena que vivemos épocas que crianças comem nuggets e nunca nem viram um frango na frente. Comem hamburger e nem tem idéia do quanto uma vaca é simpática pessoalmente... :-(

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