terça-feira, 8 de março de 2011

ALMA DE GATO-POEMA

Olá amigos e família,

Resolvi criar um blog com os textos e poemas que escrevo. O link é: livialadeira.blogspot.com

Passem lá!

Abraços,

--
Lívia Ladeira ESTE LINDO POEMA É DA MINHA FILHA!!

Alma de gato

Você diz que tenho “alma de gato”. Alma de gato. Será?
Sim, gostaria. Mas não. Sinto muito.
Ah, meu Deus, como queria.
Talvez tenha alma de cão. Mas não, de gato não.

Queria sim, assim como eles, andar esguia, na ponta do pé.
Leve como pluma, com patinhas de algodão.
Fazendo estripulias, como uma bailarina.
Alongar minhas pernas e tocar minha nuca,
Displicentemente encantar meu público.
Simples e sincera sem nada dever a ninguém.

Então me paralisar, observando,
Impondo-me
Dona do meu domínio.
Rainha do teu castelo.
Sem nada perder de vista.
E como uma estátua de mármore
Precisamente esculpida
Ser contemplada,
Digna de adoração.

Queria sim, abrir meus olhos e refletir a luz da noite.
E com o brilho que emitir, hipnotizar quem vejo,
Como que prestes a dar o bote.
Seduzir com um gesto silencioso e aprisionar para sempre minha vítima
E com minhas afiadas unhas torturar quem me quer bem.
Com minha feição angelical, manipular diabolicamente
A elevada criatura a quem inferiorizo,
O eterno prisioneiro que deliberadamente me acolhe.

Exigir malandramente um afago
E sem pedir licença me jogar em um colo.
Enrolar-me, abraçando-me sem pudor,
E como um feto aconchegar-me no seio que me alimenta,
Tornando irresistível o iminente cafuné.
E quando bem me entende, levanto-me,
Espreguiço-me e bocejo, lenta e longamente.
Deixando para trás qualquer vestígio
De mais um leito transitório.

Ah, que pena, tão bom, se alma de gato tivesse.
Mas não. Talvez alma de cão.
Que senta e espera resignado,
Por um cadinho de atenção.
Que mantém sempre seus pés no chão
A não ser quando um abraço o força o vôo
Para logo em seguida ser devolvido ao seu lugar.

E que espera pacientemente por seu dono,
E sem ele não sabe quem é.
Que feliz abana o rabo e lhe lambe os braços quando chega
E não vê quando em seguida lavam as mãos.

Sou o cão que fielmente se cega
Para tudo o mais que não seja o outro
E de si mesmo se esquece
A não ser uma vez ou outra
Quando no silêncio escuro da noite
Suas feridas lambe
E no frio se aquece.

Alma de gato... Quem sabe em uma próxima vida?


2007/1

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