sábado, 25 de outubro de 2008

Mestre em Ciência Política -da UFMG- analisa e indica melhor opção p/ BH

Aos meus iguais, simples cidadãos, que reflitam se estão mesmo dispostos a trocar o que temos, pelo futuro incerto nas mãos de um aprendiz de populista, que além de prometer o irrealizável, se dá ao luxo de falar errado apenas para querer se parecer com o povo.

Política da Terra Arrasada
por Dimas Antônio de Souza

Quantos falam sobre a provável derrota eleitoral de Márcio Lacerda ou de Aécio/ Pimentel, como dizem? 'Em quem vai votar no segundo turno?' - Ainda não sei, devo anular meu voto, respondem. E começam a falar mal de Márcio, Aécio e de Pimentel. De Márcio Lacerda então, chovem difamações.

Por outro lado, os candidatos Jô Morais e Sérgio Miranda demonstram ainda dúvidas a declararem seu apoio. Pergunto-me, será que algum deles, perante o seu eleitor, omitirá sua posição? Anulará seu voto? O voto nulo dos anarquistas é lícito, eles não disputam as eleições. Mas, para quem disputou com outros projetos de poder no jogo democrático, o voto nulo apresenta-se como messianismo. Eu sou o caminho. Ou, como ditatorialismo: ou sou eu, ou mais ninguém.

Todo demagogo toca fundo com as suas palavras o coração das pessoas. Pressenti o problema quando, ao assistir o programa eleitoral gratuito, ouvi Leonardo Quintão dizer mais ou menos assim. Ô gente, tem obra por toda a cidade. Eu aplaudo, mas, cá pra nós, cê tá feliz? Ora, prometer a felicidade é demais. Esta, nem ele nem ninguém pode nos dar. E o mal-estar na civilização? Será que vai acabar, se o mesmo vencer? O Leonardo Quintão, ou Leonardo, ou apenas, Léo, como queiram, irá satisfazer todos os nossos desejos? Perguntem para ele e possivelmente ouvirão: É simples, e dá pra fazer!

O toque demagógico principal foi neste momento, onde se prometeu a felicidade. O seguinte, contou com algo mais palpável. A aprovação, por parte da população ao projeto político que chegou ao poder na cidade, desde que Patrus Ananias elegeu-se prefeito. A verdade é que a partir daquele momento, com todas as falhas comuns a nós humanos, a cidade passou a ser pensada por uma coligação partidária que tinha como propósito a ampliação da cidadania em seus vários sentidos. Assim, do ponto de vista do eleitor, a grande maioria parece estar satisfeita com o governo Pimentel, até mesmo o candidato da oposição votaria no atual prefeito. Ou seja, ele não é oposição, vai dar continuidade a tudo, então, por que mudar?

Observe que Quintão não promete mudar nada e que sua campanha chegou ao ápice quando as pessoas passaram a acreditar que ele iria continuar com todas as obras. Ora, então o povo não quer mudar, o povo quer continuar. E por que votaram contra quem de fato vai continuar?

Digo de fato porque, na coligação partidária de Márcio estão os principais partidos que elaboraram o projeto que vem administrando a nossa cidade. Em outras palavras, grande parte das pessoas envolvidas em sua consecução, permanecerá. Uma possível vitória de Quintão colocaria muita coisa boa a perder, pois, ao trocarem as pessoas e as ideologias, perdem-se o sentido original, os motivos primordiais e os paradigmas que orientaram os projetos. Sabemos bem a diferença entre 'cuidar de gente' e de 'usar de gente' e como os recursos públicos podem, em nome da ideologia de 'cuidar de gente', transformarem- se em meios de usar da gente.

Está tudo às mil maravilhas em Belo Horizonte ? Não. Nos últimos anos a truculência, em nome de razões de Estado ou em função de motivos pessoais, foi substituindo gradativamente o diálogo, a inspiração democrática da idéia original, muito bem apontado pela candidata Jô Morais. Tal truculência pode ser observada quando se verifica a forma pela qual a Prefeitura agiu com a Escola de Samba Cidade Jardim, quando, em nome de alegados interesses públicos, desalojou, à força, a escola que estava no local há mais de trinta anos. E, por objetivos pessoais, quando impôs a todo o partido uma aliança com o governador.

O erro do prefeito e de muitos dos seus secretários que, por vezes se enganam e acham que estão mandando na cidade, ficou visível. Quanto ao candidato Márcio Lacerda, parece que 'estão' pintando um retrato distorcido a seu respeito. Poucos o conhecem, mas muito se sabe desse espírito difamatório e denuncista que sempre ronda na política. Pergunta-se ao ministro Patrus: -por acaso Lacerda, ou o próprio Aécio, são piores que Newton Cardoso? Este último foi apoiado pelo PT como candidato ao senado nas últimas eleições.
A decisão das eleições em Belo Horizonte está nas mãos dos militantes do PT e do PC do B. Aos militantes do PT, é bom lembrar que em política, como na vida, às vezes é melhor perder os anéis que perder os dedos. Se o Márcio não é o candidato que os petistas queriam, com ele o projeto inaugurado pelo próprio PT, mesmo que um pouco mais desvirtuado, ainda tem chances de continuar. A própria presença do partido na coligação é a garantia.

Ao Sérgio Miranda, à Jô e aos militantes do PC do B, que também têm responsabilidades pelo projeto que governa a cidade, sugiro que se lembrem de que o governo é um cabo de guerra e que a tarefa coerente deverá ser puxá-lo à esquerda. Seria então o momento de, com críticas e força eleitoral, voltarem à coligação. Aos meus iguais, simples cidadãos, que reflitam se estão mesmo dispostos a trocar o que temos, pelo futuro incerto nas mãos de um aprendiz de populista, que além de prometer o irrealizável, se dá ao luxo de falar errado apenas para querer se parecer com o povo.

Ou debochar de nós.

Dimas Antônio de Souza é mestre em Ciência Política pela UFMG, professor de Ciência Política da PUC-MG e autor do livro 'O mito Político no Teatro Anarquista Brasileiro'.


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Os atuais meios de produção e de consumo precipitaram a humanidade na direção de um impasse civilizatório, onde a maximização dos lucros tem justificado o uso insustentável dos mananciais de água doce, a desertificação do solo, o aquecimento global, a monumental produção de lixo, entre outros efeitos colaterais de um modelo de desenvolvimento "ecologicamente predatório, socialmente perverso e
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(autor desconhecido)




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