Ao ver ou ouvir esse nome até salivamos pensando somente na iguaria feita com carne de boi e mandioca, mas a visão de uma vaca atolada, literalmente, no barro é cruel e dramática.
Viajamos para conhecer o Pantanal com olhos de quem respeita e defende a vida. Fomos conhecer a realidade dos animais que lá vivem e suas condições de sobrevivência.
Por lá nos contaram que a visitação de estrangeiros é de 95%. Boa parte de brasileiros quando vai, vai a fim de caçar, pescar, se embebedar, poluir com latas de cerveja, refrigerante, garrafas pet. Ou são jipeiros que degradam o ambiente sem se importar com o impacto que causam na fauna e flora. Esses indivíduos ainda pensam e vivem como os aventureiros de épocas remotas sem a mínima consciência de preservação ambiental.
O aquecimento global já afeta nitidamente o Pantanal. Percorremos grandes extensões e vimos muitas pontes secas. Contaram-nos que há anos não viam tanta seca.
Nesta época, outubro, era para estar tudo alagado. Os jacarés se aglomeram em pequenas lagoas. Os animais, à noite, à procura de água, cruzam as estradas e são atropelados. À procura da água, tornam-se presas fáceis para o pior dos predadores: o homem.
A criação de gado de corte naquela região é feita em grande escala. O gado fica solto em fazendas que ocupam grandes extensões de terras e por ali se reproduzem com pouca supervisão.
Com a seca a água vai diminuindo e, onde ela ocupou antes, fica aquele barro como uma areia movediça. O gado sedento, em sua busca, atola. Presenciamos isso e o guia nos disse que aquela vaca que estávamos vendo já estava atolada havia três dias. Os peões tentaram removê-la mas ela estava fraca e não conseguia levantar-se, então deixaram-na lá, sedenta, faminta. Moscas e formigas já percorriam seu corpo e seria comida viva pelos animais ou abutres.
Minha sobrinha, pediu para parar o transporte no qual estávamos percorrendo o local e diante do olhar estupefato de todos os outros visitantes, desceu do carro, ultrapassou o cercado, aproximou-se e chegou água na boca do animal. E mais: espargiu repelente por onde as moscas já depositavam seus ovos. Nunca esqueceremos o olhar de pavor e desespero daquele animal sedento, faminto, pressentindo sua morte, lenta, dolorosa e, sendo comido ainda vivo, atolado naquele lamaçal.
Em seguida, por insistência dela ,fomos à fazenda do proprietário do animal. Como esse não se encontrava, ela conversou com o peão encarregado, pedindo-lhe que fizesse algo. Não satisfeita ainda, pediu ao proprietário da fazenda onde estávamos hospedados, que intercedesse e tentasse ajudar aquele animal porque não podíamos continuar tranqüilos diante daquele sofrimento.
Após, muita insistência, disseram que iriam sacrificá-lo, desferindo uma punhalada na nuca. Disseram, rindo, que vacas morrerem atoladas por ali era normal.
Adriana, com paciência, sabendo da pouca escolaridade e consciência dos peões, tentou mostrar-lhes que não deveriam considerar natural e normal o sofrimento de um ser vivo.
Contou-lhes que os animais sentem sede, fome, medo e pressentem a própria morte. E continuou dizendo que estes, tendo como última alternativa a morte, que ela então lhes fosse concedida como um direito, para evitar a lenta e dolorosa agonia do animal.
Garantiram-nos então, que o animal fora sacrificado, apesar de ter-nos ficado a dúvida. Adriana, logo que chegou ao hotel, foi para o computador e digitou esse desabafo:
Obrigação de agir !
"Nós, ativistas pelos Direitos Animais, onde quer que estejamos, e conscientes da senciência dos animais não-humanos não podemos fechar nossos olhos nem calar nossa consciência inquieta por defender os que não têm como fazê-lo.
Temos obrigação de agir, lembrando que somos providos de racionalidade. Essa, que torna-se arrogante, ao ser usada para beneficiar a nossa espécie e ao considerar que as outras espécies existem somente para nos atender.
Infelizmente, o que vemos ao nosso redor, é o uso dessa racionalidade de forma irresponsável, usando, torturando, aprisionando os outros animais que têm o mesmo direito à vida e de estar neste Planeta.
A racionalidade humana é um bem precioso, que nos traz a responsabilidade maior de usar a inteligência para beneficiar tudo e todos, e não para destruir tudo e todos, incluindo a nossa própria espécie."
Movimento Mineiro pelos Direitos Animais "Liberdade aos Animais, ainda que tardia ! (Adriana Amaral Araújo)
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