Essas crianças totalmente sem limites, que não sabem ouvir um “não”, dificilmente vão estar preparadas para enfrentar obstáculos, adversidades ou negativas no futuro. Vão querer sempre tudo a favor, nada contra.
Meninos e meninas hoje criados no egoísmo, no consumismo desenfreado, no desperdício, não vão saber encarar problemas e dificuldades no futuro.
Os maus profissionais de amanhã ( em todos os setores) começam agora, no processo de sua formação e criação.
Se não sabem repartir, somar e compartilhar, não há como esperar deles, anos à frente, atitudes maduras, participativas, objetivas e conscientes.
A falta de limites, nos dias de hoje, é resultante do pouco tempo( ou nenhum) que os pais têm para dedicar aos filhos.
Já que não podem dar, em suas casas, tempo, presença, atenção e interesse ( há pais que nunca viram um boletim escolar) eles enchem a vida dos filhos de coisas, para que fiquem bem distraídos e não lhes tragam problemas.
Videogames, moutain bike, moto aos doze anos, a chave do carro aos 14- tudo isso é uma maneira de os pais manterem os filhos à distância, na rua.
Dificilmente a gente pode esperar que um menino todo mimado, birrento, centralizador de atenções, vai ser no futuro alguém com o coração aberto, disponível, sensível aos problemas alheios.
Atrás de todo mau profissional, hoje, está aquele menino que nunca aceitava ter sua vontade contrariada, que agia como o dono da bola ( sem ele, o jogo não começava), que queria ser sempre o primeiro (independente de ter méritos ou não), e que sempre pensou que os fins justificam os meios.
Mau profissional é aquele que pretende subir a qualquer custo, que passa por cima dos outros, que não tem escrúpulos, não cumpre horário, destrata os subordinados, não é capaz de uma palavra de apoio ou incentivo.
É também aquele que desperdiça tudo, não tem espírito de equipe, bajula os superiores, e coloca defeito em tudo o que os outros fazem. Só as suas obras são perfeitas. O resto não presta.
Se os serviços de Psicologia das empresas e corporações ficarem bem atentos ao comportamento de algumas de suas chefias, verão que a origem de todos os recalques, exageros, gritos, ataques de histeria, distorções e aberrações de comportamento está nos traumas da infância, na má criação, no excesso de presentes, na carência de amor – sim, porque podem ter tido tudo, mas na verdade não tiveram amor.
E vão descontar isso em cima dos outros, qualquer que seja a profissão que ocupem e o grau de poder que tenham em mãos. Aliás, entregar o poder a pessoas despreparadas assim é um completo desastre.
Hélio Fraga é jornalista, escritor e consultor em treinamento gerencial. 1994
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