segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Animais na TV – Saiba o que fazer quando assistir situações abusivas contra animais na TV

Junho de 2009
Animais na TV – Parte 1
Série de reportagens traz reflexão sobre o impacto do aparecimento de bichos na telinha


Assistir TV pode ser um momento de real prazer, entretenimento e até educação. Documentários com aspectos curiosos do mundo animal e da natureza estão entre as melhores opções. O quadro, porém, pode se inverter quando os bichos assumem papéis de coadjuvantes em comerciais, novelas, seriados ou programas de auditório. De gosto duvidoso e até perturbadoras, as imagens levantam questionamentos que remetem, entre outros, ao impacto das cenas em nossos filhos.

A ARCA Brasil há alguns anos vem questionando a exibição leviana e comercial dos animais pela mídia, em especial os silvestres. Um dos efeitos colaterais pode ser o estímulo ao consumo desses bichos, alimentando o comercio ilegal e o tráfico. Essa questão é tão importante, que no ultimo dia 02 de abril o IBAMA realizou o Workshop “Como os meio de comunicação podem colaborar para a proteção da fauna”, um alerta aos comunicadores sobre a urgência de rever posturas e apetites.

Olhar atento
“A Ana Maria Braga está com um papagaio no programa dela. Ah, mas não é um boneco? Não, agora é de verdade.” Louro José ganhou uma “filha” de carne e osso. Batizada de Lola pela audiência, a ave – presente de um criador comercial – contracenou com a apresentadora em algumas edições do seu programa durante o mês de maio.

Já na novela “Caras e Bocas”, exibida no horário das 19h20 pela Rede Globo, quem contracena com os atores é um chimpanzé, cuja habilidade como pintor de quadros é explorada por um dos personagens que mantém o bicho e confinamento para tirar vantagem dele. Apresentando comportamentos não naturais à sua espécie e pretensamente integrado a uma família de humanos, nosso mais próximo parente na natureza parece estranhar quando seus relativos se espantam diante de suas habilidades.
Nos programas “Bom Dia e Cia” e “Sábado Animado” do SBT, coelhos, ratos e porquinhos-da-índia participam de “brincadeiras” onde crianças por telefone apostam em corridas e outras competições. Eventualmente os apresentadores gritam ou empurram os bichos como estímulo, tudo no melhor espírito esportivo.

A publicidade também tem um apetite voraz na hora de utilizar animais para vender seus produtos. Um exemplo é a campanhas dos serviços de internet da Globo.com. Realizados pela agência W/Brasil, são mais de dez comerciais protagonizados por um bicho preguiça fazendo o papel de um humano preguiçoso. Já uma campanha da Bros.co para um serviço de venda pela internet, utiliza – de forma bastante questionável – pássaros da fauna silvestre brasileira.

“Além de deseducativas e de mau-gosto, estas exibições criam uma visão de que o bicho é algo distante, mas que até pode ser transformado em mascote, nunca como um ser vivo, com necessidades próprias, que deve ser valorizado e do qual depende o futuro do planeta”, explica Marco Ciampi, presidente da ARCA Brasil. Ele lembra que em caso de maus-tratos a exibição passa a configurar crime, e ainda que o maior perigo está na exposição de animais silvestres.

Se você assistiu alguma cena questionável, em algum aspecto, com animais na televisão, escreva seu relato para a ARCA, contando como foi a exibição, em qual canal ocorreu e seus comentários a respeito... E não perca a próxima edição do Notícias da ARCA! Revelaremos como amenizar e prevenir os possíveis efeitos negativos dessas programações e porque o IBAMA continua deixando este tipo de exibição acontecer.

Fonte: Arca Brasil
http://www.arcabrasil.org.br/noticias/0906_ibama.html

Julho de 2009
Animais na TV – Parte 2
Saiba o que fazer quando assistir situações abusivas contra animais na TV e entenda a flexível postura do IBAMA neste assunto


A última edição do Notícias da ARCA abordou a polêmica sobre a utilização de animais em propagandas e programas da TV (confira). Agora você saberá como pode agir e qual é o papel do IBAMA neste contexto.

Estimativas otimistas apontam que o IBAMA consegue coibir apenas 10% do tráfico de animais silvestres no país. Ao mesmo tempo, por falhas nas leis, não se consegue manter os contraventores presos. O papagaio que fez um “bico” no programa “Mais Você” da Ana Maria Braga custa em torno de R$ 2.500,00, enquanto a mesmoa ave, de origem ilegal, custa dez vezes menos embora com muitas mortes a mais (para cada ave vendida, nove morrem durante o tráfico).

Segundo Airton De Grandes, assessor de comunicação do IBAMA e um dos organizadores do Workshop “Como os meio de comunicação podem colaborar para a proteção da fauna”, cada vez que um programa exibe animais silvestres reforçando características como “adequado para a companhia humana”, o órgão recebe uma infinidade de ligações perguntando como adquirir um bicho daqueles. “Se de fato comprarão um animal do tráfico, não posso afirmar, mas que esses programas aumentam o desejo de consumo de animais silvestres é inquestionável”, afirma o jornalista.

Para Luís Mauro de Sá Carneiro, sociólogo e professor de comunicação comparada da Faculdade Cásper Líbero, o papel dos pais é fundamental. “Uma criança que vê um animal silvestre no programa da Eliana pode pedir um bicho desses aos pais? Pode. Assim como roupas, doces e brinquedos. Talvez se eles responderem ‘não, filho, animais silvestres não são para ter em casa’, a questão esteja resolvida sem precisar mexer na TV”, ele analisa.

Papel do IBAMA
Nilde Lago Pinheiro, geógrafa e ex-superintendente do Ibama de São Paulo no início dos anos 1990, afirma que houve um retrocesso na atuação do órgão: “Hoje há uma maior liberalidade do Ibama sobre a aparição de animais na mídia, sejam eles exóticos ou de fauna brasileira”, comenta ela sobre os critérios do órgão para esses tipos de gravações.

“Na minha gestão, considerava-se maus-tratos qualquer ação que obrigasse o animal a ter comportamentos não naturais para sua espécie. Hoje temos aquele chimpanzé extremamente humanizado da novela”, compara ela. Para Nilde, a definição de maus-tratos na lei é pouco específica, tornando-se uma questão de interpretação pessoal.

A falta de precisão das leis também é apontada por Julio Isnard, publicitário e diretor da ARCA Brasil: “Nós temos leis rigorosas em relação à propaganda para crianças e de bebidas. As regras para os animais poderiam ser mais específicas e completas”. Para Denis Donaire Junior, advogado e membro da Comissão de Meio Ambiente da OAB, essa definição pode ser complexa: “Tipificar maus-tratos envolve componentes regionais que dependem do entendimento coletivo”. No entanto ele concorda que poderia haver uma punição para o ato de passar comportamentos não naturais aos animais silvestres.

Militância de resultados
A atuação de Nilde também foi marcada pelo veto a emissoras e produtoras de comerciais que pretendiam exibir animais. “Pressionávamos o Conar e como superintendente eu não autorizava. Geralmente quando algum bicho aparecia é porque a decisão tinha passado direto por Brasília.” Um dos casos mais notórios foi de uma propaganda do Chiclete Adams que utilizava chimpanzés legalizados, com custos avaliados em 1 milhão e que nunca foi ao ar.

No mesmo período, foi notória a atuação de alguns setores da proteção animal, como o Grupo Tucuxi, liderado pelo químico e professor Márcio Antonio Augelli, que também participou do episódio da Adams. Nessa época moveram ações contra os apresentadores Sílvio Santos, Gugu Liberato e Renato Aragão, e a própria Rede Globo (pela abertura da novela Mico Preto), entre outros, conseguindo impedir aparições de animais em condições degradantes. “Naquela época, ainda podíamos contar com a sensibilidade de pessoas como Cleide Cais (ex-Procuradora Chefe da República em São Paulo) e a Nilde. Hoje em dia eles deixam passar tudo.”, protesta Augelli.

O químico vai mais longe e desafia qualquer técnico do Ibama a provar que não é proibido exibir um animal silvestre fora do seu contexto natural com fins comerciais. De acordo com o químico, as leis não facilitam as contravenções e sim a postura do poder público. “Não há interesse do Ministério Público em acatar denúncias sobre a fauna em todos os sentidos e o Ibama é corrupto”, justifica.

Fonte: ARCA Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário